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Episódio 2 

A TEIA DA ARANHA DOURADA 

                                           Rodrigo Leste




No episódio 1, um helicóptero carregado de “pó” é apreendido e não dá em nada. Um grupo de amigos realiza um filme que traz à luz esta e outras passagens mal contadas da história do País

                                         
Episódio 2

O filme dirigido por Alfredo é uma ação entre amigos, duros e desempregados. A ideia é produzir algo que trate de assuntos que a indústria cinematográfica não tem interesse, ou coragem de abordar. A Teia da Aranha Dourada é o título do roteiro de Alfredo, mas a empreitada é democrática, todos dão palpites, e as alterações são feitas sem muitas delongas

A equipe é formada por diletantes. Nenhum deles é profissional do cinema. Começaram a filmar ontem, primeiro de julho, e ficou definido que até o dia trinta, tudo tem que ser feito. Todos concordam que sem dinheiro, um mês é o limite para fechar a produção.
Pasqualle é engenheiro, dono de uma firma que presta serviço a grandes empreiteiras. É amigo do pai de Alfredo; deve andar na faixa dos sessenta e tem toda a pinta de vencedor. Disse que topou participar do filme porque tem o desejo secreto de se ver nas telas. “Narciso manda lembranças” – pensou Alfredo. A filmagem está acontecendo no seu escritório, elegante e bem decorado.

— Senador, senador (o ministro fala ao celular no seu gabinete). Calma, devagar com o andor...
— Ministro, talvez o senhor não esteja avaliando bem a gravidade da situação, estou... (ouve-se apenas a voz do senador Cheiroso ao celular)
— ... compreendo perfeitamente. O amigo me conhece. Temos que procrastinar ao máximo. Afobado come cru. Pressa demais em negar sugere culpa.
— A mídia vai bater pesado, esses filhos da puta vão querer me arruinar. (Transtornado o senador Cheiroso tropeça em algumas palavras, fala fino sem querer.)
— Dinheiro, meu caro, dinheiro é sempre a solução, o senhor sabe.
(O ministro fala em tom elegante, pausado, sendo até às vezes, professoral.)
 — Este delegado novo da PF precisa vir comer na nossa mão. Ele botou as manguinhas de fora, mostrou as garras, mas está na hora de entrar na nossa folha de pagamento, parar de querer cantar de galo.
— É, podes crer. Tem razão, ministro, vamos abrir o caixa e botar o dinheiro pra trabalhar, isso não é problema.
— Certamente que não (o ministro ri satisfeito). A distribuição do dinheiro mostra a posição de cada elemento na engrenagem. E podemos plantar uma notícia quente, para desviar o foco da mídia. Uma nova operação da PF pode ser deflagrada para abafar esse imbróglio.
— Cagada do Paçoca, excelência. Desculpa o termo, mas tudo cagada, incompetência do Paçoca. Já tô por aqui com ele.
— Senador, desculpe, mas não é assim que se faz. O “Paçoca”, como o senhor costuma chamar o nobre senador, é seu fiel escudeiro, companheiro de todas as horas. Cometeu um erro, um descuido, mas quem não comete? Não é hora de arranjar um novo inimigo.
— É a raiva, ministro, raiva. Mas o senhor tem razão. Vou tomar um uísque e dar um tempo.
— Está tudo sob controle, senador. Não se exalte à toa. Vou fazer alguns contatos e pôr as coisas em ordem. Não se preocupe.
— Obrigado, ministro.
— Não há de quê, passar bem senador.


— Corta! Corta! — grita Alfredo expressando toda a sua satisfação. — Excelente, Pasqualle, excelente. Esse seu ministro tá de arrasar. Dá pra ir pra Hollywood com tanta competência. Jane, que é uma espécie de faz tudo da produção, bate palmas.

Pasqualle ordena a Odete, sua secretária, que traga uma garrafa de uísque e copos para brindar com toda a equipe.

Fim do Episódio 2


*       Gravura - Eri Gomes

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